Presidente da ATP fala sobre calendário, Masters de 2 semanas, pré-temporada e Copa Davis

Andrea Gaudenzi, o presidente da ATP, organizou uma longa coletiva de imprensa em Turim, onde abordou diversos temas relevantes para o futuro do esporte: do calendário ATP aos torneios 250; dos Masters 1000 de duas semanas à duração da pré-temporada.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista. 

Calendário ATP e torneios 250

Nos últimos anos, reduzimos o número de torneios ATP 250. De 38, acho que caiu para 29. O objetivo, olhando para 2028, com o Masters 1000 da Arábia que virá, é reduzir ainda mais. Os 250 são importantes, assim como os 500 ou os Challengers. Cada categoria é importante, mas temos torneios demais.

O ano tem 52 semanas e os jogadores precisam de uma pré-temporada. No momento, a pré-temporada é muito curta. Eles precisam descansar, tirar férias e trabalhar no corpo e no tênis. 

A nossa estratégia tem sido clara: focar no nosso produto premium, os Masters. Precisamos oferecer a melhor experiência possível aos torcedores. Os fãs adoram ver os melhores jogando entre si, e isso é algo que acontece nos Slams, nos Masters 1000 e nas Finals.

Depois, temos um problema: os jogadores são profissionais independentes. Cada um escolhe onde quer jogar. Alguns podem priorizar um 250 em vez de um 500, ou um 500 em vez de um 1000. Nós propomos incentivos, tentando influenciar seu comportamento, mas no fim são eles que escolhem onde jogar. É um problema difícil de resolver, porque o tenista é atraído pelo dinheiro e joga em categorias menores ou em exibições fora do sistema também. Acredito que, se todos sentarmos juntos – Slams, ITF, ATP e WTA – sob uma mesma diretriz, poderemos fazer um trabalho melhor no calendário.

Masters 1000 de duas semanas

Eu era um jogador que circulava entre as posições 50–55 do ranking e só conseguia entrar em uma ou duas chaves principais de Masters 1000. Em contrapartida, entrava em todos os Slams, e me perguntava: como é que posso jogar os Slams e não os Masters? Por isso acho importante que os Masters tenham uma chave de 96 jogadores e deem a opção aos top 100 de disputar esses torneios, com exceção de Monte Carlo, Paris e o Masters da Arábia.

Indian Wells e Miami funcionam assim há 35 anos. Eu não inventei nada. Cheguei, vi os números e percebi que funcionavam muito melhor do que os outros. Por que os Slams têm tanto sucesso? Infraestrutura, história, e marca. Em um torneio de 15 dias é possível vender muitos ingressos. O tênis é um esporte em que a bilheteria tem grande peso: pode representar 50% ou 60% dos lucros de um torneio. Em outros esportes, a maior parte da receita vem de patrocinadores.

Se você acrescenta dias a um torneio, como aconteceu este ano com Canadá ou Cincinnati, basta olhar os números para ver como tudo mudou graças à venda de mais ingressos. Isso nos permitiu, também, oferecer mais de US$ 20 milhões em bônus aos jogadores, quando antes eram US$ 6 milhões. Esse dinheiro vai para todo o ecossistema, inclusive para jogadores do top 100 ou 150.

Talvez o problema seja os jogadores terem de ficar mais tempo em um torneio, mas precisamos de mais um ou dois anos para ajustar o plano e compensar mais os jogadores que avançam mais longe nos torneios, porque são eles que geram valor.

Eles podem pensar que ganham X em um único dia indo a uma exibição, e que, se forem a um Masters de 12 dias, ganham menos. Esse é o nosso problema agora. Precisamos de alguns anos para ver se isso funciona e decidir o que fazer. Com o compromisso de todos, poderemos beneficiar todo o ecossistema. Só peço um pouco de paciência.

Pré-temporada e Copa Davis

Alguns dirão seis, outros sete, outros oito semanas. É óbvio que um tenista precisa de uma ou duas semanas de descanso. Depois, uma ou duas semanas para trabalhar fisicamente. Acho que as pré-temporadas precisam ser mais longas do que são hoje. Há jogadores, como era o meu caso, que terminam o ano em Paris, no começo ou na metade de novembro. Os tops ainda têm as Finals e a Copa Davis.

Sobre este torneio, joguei minhas melhores partidas nesta competição. Acho que deveríamos transformá-la na Copa do Mundo do tênis. O melhor formato é o de mandante e visitante. Lembro-me de jogar a final em Milão e é, provavelmente, minha melhor lembrança na carreira. Lembro-me de jogar em Palermo contra Agassi e Sampras, ou em Florença contra o Zimbábue. Não importa o lugar, as arquibancadas lotam em locais onde normalmente você não vê tênis, tudo para apoiar seu país. Esse ambiente é o valor deste produto.

O problema é a mudança de superfícies. Em uma Davis você joga no saibro e no dia seguinte precisa ir para Dubai jogar no piso duro. É complicado. Acho que o ideal seria ter uma Davis com mandante e visitante a cada dois anos. Não existe Copa do Mundo anual em outros esportes, segundo eu sei. Isso agregaria valor ao produto e aliviaria muito o calendário.


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